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Para amenizar as tensões (e fugir do escopo da lista, de novo).

De: Luciano Vieira <luciano-v_at_i...>
Data: Sun, 7 Apr 2002 16:48:48 -0300

Texto de Luis Fernando Veríssimo

  
Tudo começou quando eu tinha 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de"experimentar, depois quando você quiser é só parar..." e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", "da terra", que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do "Chitãozinho e Xororó" e em seguida um do "Leandro e Leonardo".

 

Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "Amigo" eacabei comprando pela primeira vez. Lembro que cheguei na loja e pedi:

 

*Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano.

 

Era o principio de tudo!

 

Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé.

 

Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... "Banda Eva", "Cheiro deAmor", Chiclete com Banana","Netinho", etc. Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores, "É o Tchan", "Companhia do Pagode", "Asa de Águia" e muito mais.

 

Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves, euqueria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes, então meu "amigo" me deu o que eu queria, um CD do "Harmonia do Samba". Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela, respirava por ela, vivia por ela!

 

Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais...

 

Comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show de encontro dos grupos "Karametade" e "Só pra Contrariar", e até comprei a Caras que tinhao "Rodriguinho" na capa. Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo.

 

Não deu outra: entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma "música" que não dizia nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos fazíamos sinais combinados.

 

Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a "As Melhores do Molejão". Foi terrível!! Eu já não pensava mais!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas "miseráveis"e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fasenegra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando comecei a escutar "Popozudas", "Bondes", "Tigrões", "Motinhas" e "Tapinhas".

 

Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saia a noite para as festas pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o "caminho das pedras", outros extremistas preferiam o "caminho dos templos".

 

Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa. Hoje estou internado em uma clinica.

 

Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de Rock, MPB, Progressivo e Blues.

 

Mas o meu médico falou que é possível que tenham que recorrer ao Jazze até mesmo a Mozart e Bach.

 

Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisasboas e te oferecem drogas. Se você não reagir vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável e distante; vai perder as referencias e definhar mentalmente.

 

Em vez de encher a cabeça com porcaria, pratique esportes e, na dúvida,se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte:

 

*Não ligue a TV no domingo a tarde;

 

*Não escute nada que venha de Goiânia ou do interior de São Paulo;

 

*Não entre em carros com adesivos "Fui...";

 

*Se te oferecerem um CD, procure saber se o suspeito foi ao programa da Hebe;

 

*Ou se apareceu no Sabadão do Gugu;

 

*Mulheres gritando histericamente é outro indício;

 

*Não compre nenhum CD que tenha mais de 6 pessoas na capa;

 

*Não vá a shows em que os suspeitos façam gestos ensaiados;

 

*Não compre nenhum CD que a capa tenha nuvens ao fundo;

 

*Não compre qualquer CD que tenha vendido mais de 1 milhão de cópias no Brasil;

 

*Não escute nada que o autor não consiga uma concordância verbal mínima;

 

*Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos. A vida é bela! Eu sei que você consegue!

 

Diga não as drogas!

No aguardo de resposta
 
Um abraço
 
Luciano Vieira
ICQ º 111528842

"O importante é se importar com a importação dos importados!"

[As partes desta mensagem que não continham texto foram removidas]
Recebida em Sun 07 Apr 2002 - 12:50:46 BRT

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