Videogame é negocio sério. Tão sério que, segundo especialistas, em
breve, mais dinheiro será gasto com softwares de diversão que com
música. E tão importante a ponto de o Barbican, o maior centro
cultural de Londres, abrir seu espaço para uma grande exibição sobre
o tema. "Game On", a primeira mostra desse porte na Europa, dá ao
visitante uma compreensiva, interativa e profunda análise do mundo
dos videogames.
Depois de quatro anos de pesquisa, o centro, em associação com o NMS
(Museu Nacional da Escócia), recheou dois andares com máquinas
antigas, consoles de última geração, centenas de jogos e muita
informação.
Mas o grande trunfo da mostra, como o de qualquer videogame, é o seu
alto caráter interativo. Mais de 150 aparelhos estão à disposiçãodo
público. Quem quiser pode até fazer uma espécie de viagem pela
evolução dos games jogando desde o clássico Pac Man até a última
versão de Tomb Raider, passando pelos excelentes gráficos do novo
Star Wars ou apenas escapando dos lentos perigos de Asteroids. É o
sonho de todo moleque -de 5 a 50 anos de idade.
"A idéia nasceu de uma conversa entre Lucien King (curador convidado
da mostra) e Mark Jones (ex-diretor do NMS)", conta Neil McConnon, um
dos responsáveis pela exibição. "Eles buscavam diferentes maneiras de
atrair um público mais jovem e resolveram arriscar com o mundo dos
games."
Deu certo. A exibição é uma das mais populares na história do
Barbican, atraindo um público que não está acostumado a frequentar
museus. "Mas não é apenas o lado da diversão que está em destaque",
avisa McConnon. A idéia principal da mostra é tratar de uma maneira
séria essa forma de arte que surgiu em um laboratório nos EUA há 40
anos e se transformou em um negócio multibilionário, capaz de ditar
modas, influenciar gerações e causar impacto nos filmes de Hollywood.
Na entrada da "Game On", um portal decorado por uma cascata de pixels
dá o sinal de "start" para o visitante, que pode passear pela mostra
por quanto tempo seus dedos aguentarem.
Distribuída em 15 módulos, a exibição começa com o dinossauro PDP-1,
um trambolho do tamanho de um fusca. Foi nele que o pesquisador Steve
Russel criou, em 1962, o Space War!, considerado o primeiro jogo a
ser desenvolvido em um computador dotado de um monitor. Ao seu lado
estão Computer Space (1971) e Pong (1972), máquinas criadas por Nolan
Bushnell, fundador da Atari, e as primeiras a serem comercializadas.
Diferentemente da maioria das peças, essas não podem ser jogadas nem
tocadas.
Outra seção nostálgica é a "Arcade Games", uma visita aos anos 70 e
80, quando máquinas como Space Invaders, Pac Man, Donkey Kong e
Asteroids faziam a festa da garotada.
Mas a seção mais movimentada é a dos consoles. Vários aparelhos estão
à disposição do público, todos jogáveis. Do Magnavox Odyssey (1972),
primeira máquina caseira, ao novíssimo GameCube. "Esse é o lado
incrível da mostra. As pessoas não estão apenas olhando para quadros
nas paredes", acredita McConnon.
"Game On" também analisa o mundo dos games em uma perspectiva global.
Explorando temas como o desenvolvimento e o design de um personagem e
os detalhes gráficos de um jogo, a mostra estabelece a diferença
cultural entre os cartuchos criados no Japão e nos EUA.
Em paralelo à exibição, o Barbican preparou uma série de atividades
relacionadas ao tema. O cinema exibe filmes que incorporaram a
estética ou foram influenciados pelo fenômeno dos games.
"A idéia é mesmo dar uma outra perspectiva para os jogos", conta
McConnon. "E estabelecer paralelos com a música, o cinema e a cultura
em geral."
"Game On" é, provavelmente, a única exibição de arte que vai deixá-lo
com os olhos cansados e com os dedos cheio de bolhas. Mas a mostra,
que fica em Londres até setembro e depois se muda para o Museu
Nacional da Escócia, em Edimburgo, é sinal de que os videogames estão
sendo vistos de maneira séria.
Adema
Recebida em Tue 23 Jul 2002 - 06:39:01 BRT