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msX-Files - 6

De: Eduardo Loos <loos_at_z...>
Data: Tue, 21 Dec 1999 23:48:42 -0200

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| Arquivo no. 006|
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Antes, uma nota: Pessoal, lembrem-se de q isso tudo q eu escrevo
aqui, na verdade eu tirei da minha memoria. Estou num local nesse momento
onde n tenho nada de MSX 'a mao p/ consultar. Logo, vai pela cabeca mesmo.
Agradeco de coracao 'as correcoes, adicoes e dicas q vcs tem enviado p/ mim,
mesmo na lista ou em private. Todas as correcoes serao adicionadas na epoca
da redacao final, q sera' hospedada na lista.

E qual e' a minha intencao de escrever esse material? Relatar
historias do MSX no Brasil, doa a quem doer. Se vc n gostar, azar o seu...
Espero q isso tudo vire um documento maior, da historia detalhada do MSX no
Brasil.

Continuando, em 1987 o MSX tornou-se hegemonico no mercado de 8 bits
nacional. N tinha p/ ninguem, a Microsistemas (tendenciosa como sempre)
tornou-se uma revista de MSX, p/ desgosto das outras plataformas. Algo
justificavel, afinal, a MS se propunha a ser "a revista brasileira de
microcomputadores", logo deveria dar espaco por igual a todos. N foi o q
aconteceu. Isso gerou muitos conflitos entre o MSX e outros micros,
especialmente os usuarios de Apple ][.

O Apple naquela epoca era um micro ja' + do q estabelecido no
mercado. Umas 13 empresas ja' haviam produzido ilegalmente clones do Apple
][, ][e e ][c. A Unitron era a + famosa delas, e chegou a produzir um clone
do Macintosh, o Mac 512. Aproveito e conto um trecho dessa historia
(certamente alguns saberao ela em muito + detalhes):

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O Mac, desde o inicio e' algo completamente oposto 'a ideia da IBM,
dos clones. Apenas 3 empresas produziram legalmente clones dos Macs (Ultra,
Motorola e outra q eu n lembro o nome). A Apple sempre quis manter o
controle absoluto sobre a producao e confeccao de Macintoshes, a sua
plataforma principal ha' + de 12 anos. Acontece q uma empresa no Brasil, a
Unitron fez o impensavel naquela epoca: A Unitron fez um clone do Macintosh.
Naquela epoca, o Mac era um computador monobloco (o conceito do iMac
e' antigo...), c/ monitor mono de 9", drive de 3 1/2" c/ 800 Kb, teclado e
mouse c/ 1 botao. So' q p/ abrir um Mac, naquela epoca, vc precisava das
ferramentas q somente a autorizada da Apple possuia (em compensacao hj em
dia, basta vc virar uma alavanca e o seu Power Macintosh G3 abre-se em
dois). A coisa chegava a tal ponto q se o seu disco ficasse preso dentro do
drive, so' abrindo o micro. N havia um botao no drive p/ q vc cuspa o disco
fora. Nem um botao de desliga, mas um botao q somente liga. P/ desligar, ha'
um botao na GUI do Mac.
A Unitron viu aquilo, resolveu fazer o seu Mac. Fez um primoroso
trabalho de engenharia reversa (chegando a reescrever toda a ROM do Mac) e
quase conseguiram vende^-lo. Quase pq a Apple pressionou o Governo
americano, q pressionou o governo federal daqui, da 'terra brasilis', a
apertar a Unitron. N sei, mas parece-me q a Apple interferiu diretamente na
Unitron. So' sei q a Unitron foi ferrada pela Apple e hj em dia nem sei se +
existe. Sei q ela fez uma associacao c/ uma outra empresa e criaram a
Vitech, p/ produzir monitores, drives, estabilizadores... A coisa + proxima
q achei da Unitron na Net foi uma empresa fundada em 1991 especializada em
automacao industrial.
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Voltando, o Apple no Brasil vendeu no maximo 200.000 maquinas. Um
numero impressionante. So' q o MSX, c/ o seu marketing + agressivo, +
dinheiro investido em publicidade, e o proprio contexto das empresas
fabricantes (dois fabricantes de eletrodomesticos fizeram MSXs, ao contrario
de 13 empresas da area de informatica). Logo, muitos pais desavisados
compraram MSXs p/ o seu filho desconhecendo q existia outra plataforma. E c/
isso, aproximadamente 400.000 MSXs foram vendidos no Brasil. Curiosamente, a
Gradiente vendeu + do q a Epcom. Pq? Desconfio de q um dos motivos seja pq o
Expert tem um aspecto + "profissional". Logo, um pai n iria comprar aquele
'computador de brinquedo' (como alguns se referiram ao Hotbit), iria comprar
um micro 'profissional'. Tremenda tolice, + uma vez prova-se q o mercado e'
direcionado por emocoes.

S/ entrar no merito "qual e' o melhor, Expert ou Hotbit", os
usuarios de Apple partiram p/ o contra-ataque. Picharam o MSX de 'videogame
de teclado' (e muitos assim se referiram ao MSX), de micro nao-profissional,
de ser lento, de ter pouco soft... Realmente, na epoca o q + se vendia p MSX
eram os jogos. Cansei de ver nas colunas de classificados anuncios de venda
de jogos. O MSX n tinha muito soft comercial, e a falta das 80 colunas o
limitava qto ao uso de soft CP/M (o q na minha opiniao foi um erro). Pelo
menos converteram o dBase II Plus e o Supercalc 2, logo o problema foi
diminuido.

Qto a ser lento, o prof. Piazzi destruiu essa argumentacao usando o
'crivo de Erastotenes' (algoritmo de n-sei-qtos-anos-atras usado p/ calculo
de numeros primos) e 2 micros, na CPU no. 10. Qto a ter pouco soft... Bem, o
Apple ][ e' presente dentro do sistema americano de ensino ate' hj! Se vc
procurar, boa parte das escolas tem Apple ][ GS ainda. Logo, muito se
produziu, e n se esquecam q os americanos faziam tudo em excesso... E vc
botava uma placa de CP/M, pronto, tinha tudo de CP/M rodando no Apple. O MSX
era um micro novo, qdo surgiu o Apple tinha 7 anos de mercado.

C/ o tempo a rivalidade diminuiu e alguns Applemaniacos ate'
migraram p/ o MSX. Outros pularam p/ o PC e relembram os 'bons tempos' do
Zork, Captain Goodnight, Castle Wolfenstein c/ emuladores. Fazer o q, ne'?

Logo surgiram os clubes em torno do MSX. So' q a gde maioria era um
bando de mercenarios e safados (alias, como vc ja' deve ter notado, era
comum no universo MSXzeiro) Um q abriu 'franquia' MSXzeira era o pessoal do
Compuclub, ao qual quase me filiei. Depois surgiu o MISC (cuja sigla n
lembro o q quer dizer), q foi um clube bem popular em Sao Paulo, abrindo
algumas franquias. Os caras pareciam um clubinho bacana, mas na verdade
deram muitas 'voltas' em muita gente, como o Ademir Carchano. Faziam as
transformacoes p/ MSX 2, vendiam MegaRAMs, publicavam um informativo c/ uma
periodicidade aleatoria, entre outros 'desservicos'. Devem ter ganho muito
dinheiro, pois pelo q sei, a DDX surgiu a partir do MISC. N conheco muito do
MISC, mas sei q muitos entraram pelo cano c/ eles. Alias, a lista de safados
ligados ao MSX era gde, e ainda vamos falar de outros por aqui, como a
funesta "MSX-Soft", do Alfredo Nasser.

Antes de terminar, um pouco sobre a reserva de mercado. Achei por
acaso esse texto (q vc pode pegar na URL q coloquei nas referencias), e acho
q e' interessante lermos a respeito. Sabemos q o mercado foi muito
influenciado por essa malfadada reserva, inclusive o nosso, do MSX. E' um
resumo historico do q foi a reserva em 15 anos, pelo menos. La' vai, fiz
alguns cortes p/ poder caber nesse espaco. Quem quiser o texto completo, ta'
la' embaixo nas referencias a URL.

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O surgimento da idéia de reservar o mercado brasileiro de computadores para
os fabricantes de informática se deu nos inícios dos anos 70. Multinacionais
como Burroughs, IBM, Olivetti, HP etc não mais poderiam fazer concorrência
com as indústrias nacionais, o que possibilitaria o crescimento e
fortalecimento destas. Após algum tempo (até 1992, que aparentemente é o
prazo de vigência da Lei de Informática), estas empresas já estariam em
condições de concorrer com as multinacionais, e o mercado poderia então ser
reaberto. Durante esse prazo, seria desenvolvido um know-how genuinamente
nacional e o país se tornaria tecnologicamente independente na área de
informática.

Para justificar a proposta de reservar do mercado, foram citados os
casos japonês e americano, como exemplos bem sucedidos de protecionismo. A
Elebra tem mesmo usado esse argumento em sua propaganda, cujo texto, do
General Ulysses S. Grant, Presidente dos EUA em 1870, é reproduzido abaixo:
(...)
Para a consecução dessa nova política industrial, o governo criou um
organismo constituído por coronéis do Serviço Nacional de Informações ---
atual SEI --- o
que despertou logo a ira de alguns setores liberais da classe empresarial
(João Carlos Melo, "A incrível política nacional de informática", Edição do
Autor, 1982 - fundador da SISCO Computadores, sugere q a inspiracao da
reserva de mercado veio da entao toda-poderosa URSS).

A idéia logo teve acolhida de setores da sociedade que, embora não
entendendo de
Política Industrial ("Confusão Eletrônica", Veja, 16-jul-86, p.96 - Muito se
fala sobre a Reserva mas pouco se conhece sobre ela.) ficaram sensibilizados
com palavras de ordem tais
como "A informática é Nossa", "O Mercado é um Patrimônio Nacional", "Abaixoas
Multinacionais Sangue-Sugas", e outras do gênero. Tal lobby foi realizado
por várias entidades como a ABICOMP (defende os interesses dos fabricantes
de computadores nacionais), a SBC (representa os professores universitários
de informática), a APPD (sindicato não-oficial dos técnicos de computação) etc.

(...)

Entretanto, com o passar dos anos, os consumidores foram se
apercebendo que a tão sonhada independência tecnológica, se viesse, ainda
iria demorar bastante, pois o que se via no mercado eram cópias dos
microcomputadores fabricados no exterior, algumas até fraudulentas (Roberto
Campos, "Desperdício Ameaça Estabilidade Monetária", Folha, 16-3-86 - O
furto de tecnologia do Macintosh efetuado pela Unitron.) Além disso, havia
ainda três agravantes: (1) Qualidade bem inferior; (2) Muito mais caros; (3)
Obsoletos.

(...)

Dada a importância do microcomputador para as empresas nacionais em
geral, e a possibilidade de melhores opções externas, o contrabando logo
começa a crescer, chegando mesmo, segundo se diz, a haver hoje um micro
importado para cada nacional vendido.

Dessa feita, não obstante já haver a Reserva logrado produzir bons
resultados,
embora incipientes, as críticas começam a aumentar, tendo partido até mesmo
de seus antigos defensores. E os objetivos maiores de independência
tecnológica parecem ficar cada vez mais distantes, o que, em rigor, não é
grande novidade, pois a infraestrutura essencial para tal desenvolvimento
--- a Universidade --- se encontra de há muito em frangalhos.

Nessas circunstâncias, pretender concorrer com as multinacionais do
setor em futuro próximo, quando acabar a Reserva, só pode ser mais um sonho
tropical. Claro que a SEI, acuada, nega tudo isto, mas o fato é que os
investidores também perderam a fé na Reserva. E sem capital não há trabalho.
Pelo menos remunerado.

Mas existe ainda uma outra desilusão da Reserva: O software.
Excluídos alguns casos bem sucedidos (Sistemas de Contabilidade, Folhas de
Pagamento e Automação Bancária), nada de muito útil se fez, a não ser copiar
os sistemas americanos ("Caso Microsoft x Scopus não foi considerado", Folha
Informática, 12-ago-87, p.B2 - A Scopus brasileira, do grupo Bradesco copiou
sem autorização o MS-DOS 3.3 da Microsoft e lançou-o no Brasil sob o nome de
SISNE, o que provocou ameaça de processo por pirataria por parte da
Microsoft. Nota: Acontece q o SISNE n era uma copia pura e simples, ele foi
escrito em Pascal!). A justificativa dada é que as multinacionais vivem se
aproveitando dos subdesenvolvidos, e que a pirataria é uma forma de
compensação...

(...)

Com o pano de fundo acima delineado, nada mais propício para uma
cartada internacional contra a Reserva, curiosamente benvinda por muitos
usuários: A ameaça de retaliação comercial contra o Brasil, por parte dos
EUA ("País Deve Recuar na Informática", Estado, 21-11-87, p.23), como forma
de pressionar o governo a acabar com a Reserva, e o consequente recuo da
Política de Informática em vigor ("Novas Cartas no Intricado Jogo da
Informática", Dados e Idéias, dez-87, p.22 - A SEI cedeu e deixou o Brasil
importar o OS/2 da IBM, por pressão das próprias indústrias nacionais de
informática. Nota: Deram c/ os burros n'agua).

Tudo isto poderia ter sido evitado se os fabricantes tivessem
conseguido cair nas boas graças dos consumidores, que afinal são os que
decidirão a sorte da Reserva. Mas, ao que tudo indica, a Reserva será mais
uma quimera que não deu certo, pois nenhum país consegue se desenvolver
apenas com o mercado e a indústria. Sem a terceira perna --- a Universidade
--- qualquer mesa cai ao chão.

(...)

Para que a reserva desse certo no Brasil seria necessário a
existência do tripé mercado - indústrias - universidades. Como, entretanto,
estas últimas têm sofrido um processo de destruição nos últimos vinte anos,
o tripé fica desbalanceado e a reserva não pode atingir seus objetivos de
independência tecnológica nacional.

(...)

Governo brasileiro prefere software americano em lugar do similar
nacional.

(...)

Uma blitz para apreender micros contrabandeados causa revolta nos
usuários, um dos quais afirma haver terrorismo de Estado e acusa a Máfia da
Informática (os fabricantes nacionais) de terem pedido essa blitz à polícia
federal pois não estão mais conseguindo vender sua sucata no Brasil. (Nota:
enquanto isso se trazia laptop Toshiba em aviao da comitiva presidencial...)

(...)

Os fabricantes nacionais oferecem cópias piratas de programas
americanos, sem pagamento de copyright, na compra de seus computadores.

(...)

Como os usuários brasileiros se defendem da reserva, adquirindo
computadores bons e baratos com aparência de nacionais, mas fabricados na
China Nacionalista.

(...)

O padecimento dos usuários de computadores nacionais com uma
assistência técnica deficiente e irresponsável.

(...)

Baixa produção, impostos, juros altos, inexperiência. E a cara
informática brasileira não consegue competir.

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Referencias:
- Microsistemas de 1983-1986.
- Informes do MISC.
- CPU-MSX no. 10.
- Mail do Loos sobre o seu encontro c/ Steve Wozniak, tb conhecido
como Woz, co-fundador da Apple Corp.
- Documento "Reserva de mercado de informatica: O estado da arte",
de Antonio Carlos M. Mattos (06/1988), encontrado em
http://dn.usway.com.br/acm/Public/RES-MERC.htm
- Minha (boa) memoria, + uma vez.

Fim do arquivo.

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Ricardo Jurczyk Pinheiro -
Recebida em Tue 21 Dec 1999 - 17:39:34 BRST

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